José Saramago disse que é preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.
E o que é sair de nós? Sair de nós é ver para além do olhar. É ver quem somos, de onde vimos, onde estamos e para onde vamos. É ver os outros, ver-me nos outros e ver os outros em mim.
É partir numa expedição individual e coletiva, com uma distância suficiente que me permita compreender o que existe entre mim e o mundo - a mundividência que adquirimos nesse espaço a que chamamos comunidade. A casa comum. A casa do património. O espaço onde pertenço, onde me incluo, onde tenho as minhas raízes, o espaço que me acolhe, onde vivo, onde me movimento. O espaço de ensino e aprendizagem que acontece ao longo da vida.
É por isso necessário que a escola abra as suas portas à comunidade, estabelecendo pontes com o mundo local e global. É necessário sair da sala de aula para o campo, para o terreno, para o desconhecido e ver o território com um olhar atento, sentido, transdiciplinar, é preciso ir além do horizonte para depois regressar e entrar novamente na escola com um olhar transformado e transformador.
Sair de nós é olhar para a nossa cultura, para o nosso património e valorizá-lo, reconhecê-lo como a nossa identidade, nossa pertença, a nossa casa comum. É compreender que o património não é algo que faz parte do passado, mas é o motor do nosso presente e só com ele se faz futuro.
O Cardeal José Tolentino Mendonça diz que cada português é uma expressão de Portugal e é chamado a sentir-se responsável por ele. Também cada cidadão é uma expressão do seu território e é chamado a sentir-se responsável pelo seu km2.
Sair de nós é reconhecer que temos uma identidade em construção permanente, que se vai formando através da nossa vida cultural. A cultura não é algo à parte; ela faz parte de nós, da nossa vivência individual e coletiva. A fruição e a criação cultural são um alimento indispensável para uma vida saudável e abundante, são um direito constitucional.
Por isso, há um projeto cultural de escola que reivindica, consciencializa e mobiliza a nossa cultura, a identidade cultural, a valorização do património e da nossa ruralidade- a sustentabilidade no nosso meio. O projeto cultural de escola aciona o poder educativo das artes, da cultura, do património na vida dos cidadãos: para todos e com cada um; mostra a importância e a influência que a criatividade, a sensibilidade estética, o pensamento crítico podem exercer na vida individual e coletiva. Também aqui somos chamados a um compromisso, a um papel ativo na transformação da sociedade e no desenvolvimento do território.
Cultivando o nosso património, valorizando e explorando de forma cultural e sustentável os nossos recursos endógenos, recuperando e revitalizando as nossas artes e tradições- o que temos de mais distinto e genuino- percebemos que o nosso território tem muito valor, muitas possibilidades e oportunidades que escapam à visão de um olhar superficial, distraído ou inculto.
É necessário educar o olhar. A nossa forma de ver vai traçar o caminho do nosso futuro e do futuro das novas gerações. É necessário transformar, mudar o paradigma, participar. Para isso, devemos abrir a porta do projeto cultural de escola, entrar de coração aberto e instalarmo-nos na nossa casa - a casa do Património!
Marta Pontes
Coordenadora do Projeto Cultural de Escola do Agrupamento de Escolas de Castro Daire
Entra na Casa do Património, explora cada aposento e conhece o Projeto Cultural de Escola no Pátio da Cultura: https://aecastrodaire.wixsite.com/casadopatrimonio/sala-de-estar
Comments