Na Escola Básica de Farejinhas, orientados pela professora Lurdes Saavedra, os alunos conciliaram as suas aprendizagens curriculares com a descoberta do património castrense.
De acordo com a professora titular da turma, Lurdes Saavedra, “As Aprendizagens Essenciais de Estudo do Meio estão associadas a dinâmicas interdisciplinares pela natureza dos temas e conteúdos abrangidos, pelo que a articulação destes saberes com outros, de outras componentes do currículo, potencia a construção de novas aprendizagens.” In Aprendizagens Essenciais/ Perfil dos Alunos”. Com o objetivo de reconhecer e valorizar o património cultural e local, nomeadamente os costumes e tradições, os alunos da Escola Básica de Farejinhas elaboraram um trabalho de recolha e pesquisa que foi desenvolvido no âmbito das disciplinas de Estudo do Meio e Português.
Sabendo da existência de uma inóspita tradição que se mantém viva na vizinha aldeia de Fareja, os alunos colocaram mãos à obra e, guiados pela sua curiosidade, criatividade e pelos seus métodos de pesquisa, foram entrevistar pessoas, recolher informações e evidências para conhecerem a história de uma prática peculiar e muito tradicional que todos os anos se repete, na aldeia de Fareja, na festa de São João...
Em jeito de presente Natal, apresentamos a história da Erguedela do Pinheiro, contada pelos alunos da Escola Básica de Farejinhas.
Quem vive atento neste interior beirão não lhe passa despercebida a tradição que, na povoação de Fareja, concelho de Castro Daire, tem lugar anos a fio e que consiste em levantar um pinheiro junto à capela de S. João.
Pelo mês de maio, dois mordomos da festa do S. João deslocam-se a um monte das redondezas a fim de selecionar o pinheiro mais alto, mais grosso e mais ereto possível. Ao encontrarem o pinheiro desejado, os mordomos vão falar com o dono do monte onde se situa o pinheiro para negociarem a sua doação ou a sua troca pelo velho pinheiro.
No último fim de semana do mês de maio ou no primeiro fim de semana do mês de junho, torna-se necessário cortar o pinheiro. Por volta das 7h da manhã junta-se o maior número de homens da aldeia e alguns forasteiros para irem cortar, esgalhar e carregar o pinheiro. Ainda no monte, os homens pausam comendo pão e bebendo vinho.
Seguidamente, o pinheiro é transportado, em carro de bois, para a capela de S. João em Fareja.
As duas mordomas (raparigas solteiras e virgens, pois só nessa qualidade poderão ser mordomas), acompanhadas de outras raparigas e crianças têm o encargo e obrigação tradicional de irem esperar o pinheiro fora da povoação. Indo ao seu encontro, algures, levam com elas um ramo dos primeiros frutos da terra: as cerejas e também rosas vermelhas.
À entrada da aldeia o carro pára. O pinheiro é recebido pelas mulheres com alegria e vinho. Feito o juízo de valor sobre o pinheiro, umas dão de beber aos homens e, outras, em coro desconcertado, cantam quadras alusivas a S. João:
No altar de S. João
Nascem flores amarelas
S. João desceu à Terra
A pedir pelas donzelas.
Chegado ao destino, no largo da capela, descascado pelos arrematantes com a ajuda de machados, marretas e pás, o pinheiro, viscoso e nu, espera o dia da "erguedela". E este chega na véspera de S. João.
No dia 23 de junho, toca-se o sino para chamar a população para a festa. É altura de descer o pinheiro velho, de fazer o leilão e de o entregar à pessoa que mais o valorizar.
Chegou finalmente o momento mais esperado da tradição: "A erguedela do pinheiro". Colocadas as garranchas e as cordas em sítio apropriado e orientadas para os lugares convenientes, os homens comandam a operação. As mulheres, que nunca põem as mãos no pau, ajudam a levantá-lo puxando as cordas, conjuntamente com outros homens até que é dada por finda a "erguedela".
Após a "erguedela", é altura de festejar e conviver comendo sardinha em escabeche, broa de milho e vinho para acompanhar.
Pode dizer-se que a parte profana da Festa de S. João tem por centro o pinheiro. Festa na descida do velho, festa na” erguedela” do novo. É à volta deste que tem lugar o "arraial" e se salta a fogueira, outrora consumidora de rosmaninho recolhido atempadamente por rapazes e raparigas, namorados, ou em vias de se namorarem.
Ereto e volumoso ali passará o solstício do Inverno e aguardará o solstício do Verão, o mesmo que há-de trazer o seu substituto.
Ansiosamente as gentes de Fareja esperam pelo próximo ano para repetir esta tradição que se perde na memória dos tempos.
Fotos: Associação Cultural e Recreativa de Fareja
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