top of page
Foto do escritorCASA DO PATRIMÓNIO | PNA Castro Daire

LOBOS E LOBISOMENS

"Habitadas ou não, as velhas casas pareciam fazer parte de um postal ilustrado, um lugar deserto e obscuro que o homem achou fantasmagórico, comparando-o às aldeias de fronteira que alguns escritores decidiram imortalizar nos seus contos e nas suas histórias lendárias. Miguel Torga fora um deles. Ali estava o pequeno cemitério com os túmulos enfeitados com flores de plástico, anacrónicas, simbolizando o comum a todo o mortal- a prova de que nada nem ninguém resiste ao tempo.

A brisa noturna afagou-lhe a face, provocando-lhe calafrios. A lua brilhou, ainda mais intensamente, alertando para a presença do intruso. Sentiu a pele arrepiar e o sangue a gelar nas veias.

"Mas que raio se passa?" sussurrou baixinho, perturbando aquela atmosfera, tenebrosa e horripilante.

Quis correr, sair dali, mas algo o prendia ao lugar.

"Caramba... Afinal que se passa? Sou lá homem de ter medo!... Hum... Nada disto vai além da minha imaginação..." e encetou a caminhada pelo monte, até chegar a um pequeno bosque de pinheiros mansos, perfumados, que enquadrava, no mesmo cenário, um corgo de água doce e fresca. Saciou a sede e esgueirou-se para dentro da vegetação. Ali, ninguém daria com ele. Poderia descansar em paz por algum tempo. Deitou-se na caruma seca, de barriga para o ar. Respirou fundo e deixou-se ficar, admirando o céu polvilhado de estrelas. Adormeceu em poucos minutos, vencido pelo cansaço.

Despertou com a picada de um mosquito e uma estranha sensação envolvendo-lhe a alma. Tinha o peito dorido pelo peso da ansiedade. Talvez, estivesse apenas cansado!... Indagou a ambiência intimidante da escuridão e escutou um ruído. Algo ou alguém se aproximava. Ficou quieto, sustendo a respiração. Virou a cabeça lentamente, uma e outra vez, tentando perceber de que ponto estaria a ser observado.

"Meu Deus!" exclamou aterrado, enquanto um fulminante par de olhos surgia da penumbra.

"Um lobo! Ó céus!... E agora, que faço?"(...)"


In Rosas Brancas, Dulcí Ferreira


Dulcí Ferreira nasceu a 1 de maio de 1963, na freguesia de São Joaninho, concelho de Castro Daire. Sempre teve gosto pela leitura e escrita. Depois de passar pelo Programa de Educação de Adultos "Novas Oportunidades", licenciou-se em Estudos Artísticos, pela Universidade Aberta. Publicou livros de poesia e participou em algumas Antologias poéticas.




8 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page