Voluntariado
Hoje, conversámos com a Marisa Pinto, que nos fala de VOLUNTARIADO. A Marisa Pinto é psicóloga, natural de Castro Daire. É editora na empresa Pplware, gere a empresa Psieducare e preside a Associação Empresarial de Castro Daire e Beiras. Recentemente, criou um grupo nas redes sociais, intitulado Grupo Emergência COVID 19 – Castro Daire. A partir deste grupo, gerou-se um movimento de voluntariado e solidariedade em Castro Daire, o qual reuniu várias dezenas de pessoas que se disponibilizaram para a produção de equipamentos de proteção individual- EPI- a partir de casa. Com esta iniciativa, foi possível providenciar material de necessidade urgente a mais de vinte instituições da região. Tão ou mais importante que os bens materiais fornecidos, foi a onda de solidariedade que se criou, bem como os sorrisos no rosto de todos aqueles que receberam ajuda das mãos solidárias que se ergueram. Marisa, como surgiu a iniciativa de criar o Grupo Emergência COVID 19 – Castro Daire? A ideia surgiu sobretudo por eu acompanhar o assunto desde logo, quando a doença se manifestou em Wuhan, na China, e sentir que era importante, mais que tudo, estarmos informados de modo a poder defender-nos o mais adequadamente possível. Nesse sentido, o objetivo principal do grupo foi exatamente o de criar um espaço de partilha de informação que fosse fidedigna e credível, desconstruindo mitos e desinformação que nesta altura têm efeitos contrários ao desejado. No fundo, uma via onde as pessoas pudessem estar conscientes do problema, tendo ferramentas para o combater, no sentido de saberem como se deveriam proteger, que cuidados deveriam ter, as recomendações da DGS, entre outros. Para além disso, uma vez que o Estado de Emergência seria inevitavelmente decretado, o grupo foi também uma forma de os comerciantes e consumidores terem acesso a informações, como quais os estabelecimentos abertos e as respetivas condições e contactos. Como surgiu o movimento de voluntariado que tanta ajuda e tanto impacto teve na nossa região? Ao início, e como referi anteriormente, o objetivo do grupo foi aquele em torno do qual se viria a estruturar. O movimento de voluntariado surgiu numa primeira fase em contacto com os makers que estavam a criar as viseiras de proteção. No sentido de haver fundos para a aquisição de mais recursos, decidimos sugerir às pessoas que contribuíssem com material ou donativos. Logo aí o feedback das pessoas foi bastante positivo. Comecei, depois, a receber contactos de pessoas disponíveis para ajudar, no sentido de contactar fornecedores de material como forma de conseguirmos, através dos donativos das pessoas, adquirir Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Para além dos materiais já feitos, foi possível adquirir rolos de tecido e, juntamente com 17 costureiras do nosso concelho que se mostraram motivadas para ajudar, foi possível criar vários produtos, tais como batas, perneiras, cogulas, mangas e máscaras comunitárias. Contactei as diversas entidades, desde lares, centros de dia, bombeiros, centros de saúde, entre outros, e estabelecemos então uma via de comunicação em que o grupo, consoante os donativos, adquiria, produzia e distribuía o material de acordo com as necessidades e a realidade de cada entidade. Assim, com tudo organizado, registado e envolvido num espírito comum de partilha, união e solidariedade, foi possível doar mais de 5.000 EPI a 22 entidades diferentes, dentro e fora do nosso concelho. Quais foram as maiores dificuldades que encontraste na organização deste movimento? As dificuldades mais evidentes foi o facto de termos que adquirir material de acordo com os donativos que iam chegando. E estando nós numa fase em que o material era mais escasso e, sucessivamente, ia ficando mais caro, termos 100€ de donativos num dia ou no dia seguinte, fazia já a diferença. Ou seja, muitas vezes ou encomendávamos o produto naquela hora ou arriscávamo-nos a ficar sem ele ou a adquiri-lo mais caro numa próxima vez. E como o nosso objetivo era realmente conseguir munir as entidades com o máximo de EPI adequados, muitas vezes arriscamos com fé de que entrasse dinheiro nos próximos dias, e a verdade é que correu sempre bem. Para além disso, por vezes havia alguns sustos com as entregas, porque estavam bastante demoradas, e ficávamos com o coração nas mãos quando não recebíamos os materiais na data estimada. Outra dificuldade prendeu-se com a utilização correta dos Equipamentos de Proteção Individual por parte de quem os iria usar. Nesse sentido, a forma mais prática que encontrámos foi colocar, em cada encomenda para as entidades, vários documentos informativos, por exemplo com recomendações e orientações da DGS sobre a utilização adequada desses mesmos equipamentos. Um dos nossos cuidados foi explicar que o material deveria ser desinfetado pela entidade antes de ser usado, bem como dar uma espécie de formação da correta colocação, passo por passo, dos equipamentos, através de vídeos e documentos deixados no grupo e também diretamente a cada responsável pela instituição. Quais foram as maiores satisfações que te surgiram neste contexto? As maiores satisfações foram obtidas em coisas aparentemente simples. Por exemplo, o sorriso rasgado das pessoas quando recolhiam os materiais, mesmo que achássemos que era pouco. As mensagens de carinho e motivação que fomos recebendo desde o primeiro dia que iniciámos o movimento. O facto de os colaboradores das entidades começarem a saber usar o material adequadamente e, assim, prevenir possíveis infeções em situações de potencial risco. Para além dessas e outras situações, foi indescritível a partilha, a sensação de união e sintonia que se criou numa equipa com mais de 50 pessoas, muitas sem se conhecerem nem nunca se terem visto na vida. É quase mágico, é um sentimento muito gratificante de fé na capacidade das pessoas. E só assim tudo foi possível de uma forma mais simples e até divertida! Com base na experiência e nos contactos próximos que tiveste nesta iniciativa de voluntariado, o que significa, para ti, ser voluntário? Esta já não é a primeira vez que faço voluntariado, e sempre tive este ‘bichinho’ de ajudar, é algo que nos move, que nos faz fazer acontecer. Voluntariado, a meu ver e pela minha experiência, é darmos o que temos, a alguém ou a alguma causa, bastando o bem que se faz como recompensa. Creio que se o Mundo fosse incentivado a pensar mais desta forma, tudo era bastante mais simples, menos penoso e todos teríamos a ganhar. Sabemos que a realidade não é bem assim, no entanto, felizmente ainda vamos encontrando bastantes pessoas com esta energia intrínseca de fazer o bem. Pessoas que vamos conhecendo por acaso, sem estarmos à espera, e todas elas nos ensinam alguma coisa. Voluntariado então é isto, despirmo-nos de intenções secundárias, e aplicar o nosso tempo, o nosso conhecimento e a nossa vontade, tendo presente que, por muito pouco que pensemos que possamos estar a dar, o impacto que isso tem na vida do outro é algo absolutamente recompensador e que nos faz querer fazer cada vez mais e melhor. Que conselhos e sugestões podes oferecer aos mais jovens sobre o Voluntariado? Uma das primeiras sugestões é que tentem e se mostrem recetivos a fazê-lo. Há várias entidades ou formas de o conseguir. Contactem instituições, como lares, analisem as condições e depois, mediante o vosso tempo e disponibilidade, iniciem. Nada há mais concreto do que a realidade, estar no terreno, fazer algo acontecer. No entanto, é importante que os jovens que se queiram iniciar nesta experiência estejam conscientes de que nem tudo é fácil, daí ser importante perceberem quais as áreas que gostam, se estão mais inclinados para a população infantil, jovens, adultos, idosos, animais, etc. Porque em todo o lado e em todas as entidades, o voluntariado vos vai ensinar muitas coisas. Em especial, vai desenvolver as vossas competências sociais, a capacidade de ter respeito e compreensão pelo outro, bem como promover o vosso sentido de responsabilidade. Se realmente sentem curiosidade e querem contribuir, de alguma forma, para melhorar a vida de alguém… tentem… comecem por algum lado. O que vos garanto é que vão ganhar muito mais do que aquilo que imaginam e vão-se tornar pessoas melhores e mais capazes, com as ferramentas necessárias para estarem melhor preparados para os desafios do futuro. Muito obrigada pelo teu testemunho. Foi uma excelente conversa, que nos inspira a fazermos mais e a sermos melhores. Desejamos que a tua experiência e a experiência de todos os voluntários envolvidos nesta iniciativa constituam, para todos, um exemplo de cidadania, de ser e de estar na vida e que mostrem que a solidariedade e o voluntariado fazem muito sentido e contribuem para tornar o Homem e o Mundo melhores, mais humanos e mais evoluídos. Estamos gratos pela ajuda de todos vós, pela tua iniciativa e por este momento!
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