top of page

CONVERSAS À JANELA - Lúcia Simões - EMPREENDEDORISMO

Atualizado: 15 de jun. de 2020



Empreendedorismo


Hoje conversámos com a Lúcia, que nos fala de EMPREENDEDORISMO.

A Lúcia Simões é natural de Castro Daire e é Event Planner e Marketing Manager há 18 anos. Desempenhou funções de direção de Comunicação e Marketing de grandes empresas nas áreas da venda de produtos culturais e design. Em 2012, fundou a sua empresa e a primeira marca, a GUIDA eventos, onde se especializa como Gestora de Projetos e investe na formação em Styling e Wedding Planner, competências que soma ao conhecimento em Protocolo e a Licenciatura em Comunicação Social, com especialização em Marketing de Eventos pela Universitat Ramon Llull de Barcelona.

Em 2019 Lança a Marca RebelCourtesy, de serviços de Marketing para Turismo, e em 2020, enquanto aguarda pelo melhor momento para o lançamento da marca GENUINE PWP, dedicada exclusivamente a Destination Weddings, tem investido em formações e pesquisa sobre Marketing para Turismo.

É a mentora do coletivo informal de voluntariado e do projeto homónimo CASTRO DAIRE DE CORAÇÃO NAS MÃOS.


Lúcia, como é que uma mulher das artes, do tempo da saudosa Irmã Chica, se tornou empresária?

Tornei-me empresária quando me perguntei a mim mesma como poderia viver da arte.


Como tens conseguido acrescentar valor e ter sucesso no meio empresarial, a partir de um território do Interior?

Não pensar nisso como uma limitação, mas como uma oportunidade é o segredo. Temos características no nosso território que são só nossas e são vendáveis. Por outro lado, não penso no meu cliente só como alguém daqui, mas sim como cidadão do mundo, pode vir de qualquer lugar para o Centro de Portugal.


Qual é a relação entre Arte e Empreendedorismo?

A arte deve ser empreendedora e sustentável. Do meu ponto de vista, mesurável e sujeita a “pricing”. Simultaneamente, ser empreendedor é uma arte. Para se ter êxito e ser possível viver da arte, é necessário ser competente, e isso, como sabemos, acontece a vários níveis, no saber saber, no saber fazer e no saber ser. Atenção, perspicácia e criatividade têm de estar presentes não só na criação artística, mas também na arte de a colocar no mercado.


Qual a potencialidade que vês no Artesanato no território de Castro Daire?

Vejo imensa potencialidade! É no artesanato que reside o maior valor da nossa identidade. Como o artesanato, talvez só a gastronomia e a produção biológica tratem como merecem os recursos endógenos. O que é nosso é o que nos distingue, é onde reside o nosso valor maior. É o que mais pode criar valor diferenciado e possível de ser colocado com êxito num mercado global. Isso, para mim, tornou-se óbvio depois de frequentar as feiras de design de Milão, a Maison e Decor em Paris ou a Biennale Interieur na Bélgica. O facto de trabalhar com decoração torna também tudo muito óbvio, vejo desde há dez anos o evoluir de tendências, artísticas e de mercado, para as matérias naturais e processos ecológicos. O Mundo procura peças genuínas, diferentes, de produção manual, estéticas e funcionais, procura o Glocal. O nosso artesanato precisa de ser identificado, em alguns casos ressuscitado, experimentado e reinventado em soluções de design e mostrado ao mundo. Esse é um futuro pelo qual estou expectante e realmente muito entusiasmada em investir.


Há pouco mais de uma semana, fundaste o Coletivo informal de Voluntariado “Castro Daire de Coração nas Mãos”. Podes dizer-nos do que se trata e para que serve?

Este Coletivo informal de voluntariado serve essencialmente para motivar as pessoas ligadas ao comércio e ao artesanato, dialogando com elas, querendo saber delas, das suas dificuldades, angústias, desafios e sonhos, no período tão dramático como o que vivemos, em plena pandemia de COVID-19.

No diálogo, não raras vezes, surgem soluções, outras perspetivas, surgem também diagnósticos interessantíssimos de necessidades a curto, médio e longo prazo.

Passados 12 dias, reunimos informação de fundo, que creio nunca ter sido recolhida anteriormente. A informação que poderá ser útil, áreas de intervenção social, formação, gestão de empresas e revitalização de negócios. Faltava ir, ver, falar e, sobretudo, “sentir” e perguntar sobre o que sentem estas pessoas, para perceber qual o desenvolvimento comunitário a levar a cabo. Na entrevista a cada pessoa, reside parte de uma autorreflexão que deve ser comunitária, onde até a ausência de palavras é parte forte da mensagem. Houve já muitas lágrimas.

Este projeto não tem nele próprio o fim, pois trata-se de um começo, com muita coisa a fazer de futuro. Contamos apresentar, no final, um blog de reportagens com uma perspetiva muito humana, uma loja online representativa do que Castro Daire oferece, e ainda um levantamento do território na perspetiva do interesse turístico. Apontamos esperanças de desenvolvimento integrado. Aspiramos desenvolver uma força e um otimismo comunitário, que promova positivamente o nosso território e, em última análise, o seu desenvolvimento.

O núcleo de voluntariado está a aplicar com grande empenho as suas competências pessoais e aí reside a qualidade deste projeto, temos técnicos de comunicação e marketing, fotógrafo profissional, uma psicóloga, uma socióloga e ainda pessoas e parceiros institucionais que são “Stakeholders” junto da comunidade.


O Plano Nacional das Artes em Castro Daire educa e consciencializa alunos e comunidade para a identidade cultural, valorização do património, sustentabilidade no meio rural... através das artes e do património, procuramos despertar o seu interesse para os recursos e as matérias rurais, com incidência no artesanato. Trata-se de valores que se cruzam e partilham em ambos os projetos de que estamos a falar. Que palavras gostarias de deixar aos nossos alunos e comunidade a este respeito?

Quando nascemos, são-nos dadas faculdades fantásticas. Se investirem nas vossas melhores faculdades, no que “mais vos aquece por dentro” com o máximo de conhecimento que conseguirem, serão pessoas de sucesso, não só perante os olhos dos outros, mas essencialmente, para vossa felicidade pessoal.

Simultaneamente, quando nascemos, são-nos dadas âncoras que tanto nos prendem como nos facultam grandes viagens, são elas as nossas pessoas, a nossa terra, a nossa cultura, os nossos aromas, tudo aquilo que o nosso inconsciente, pelos sentidos, nos faz sentir “nosso”, parte de nós, a nossa casa. Efetivamente o património, a comunidade são uma grande casa. Junto com o investimento nas nossas faculdades, são pura potência! Uma força que nos deve mover, envolver, integrar e desenvolver. Somos mais felizes quando regressamos, das várias formas possíveis, a nós mesmos. A tua comunidade faz parte de ti. Quanto mais me afastei dela mais consciente fiquei dessa verdade. Envolve-te, implica-te, participa, sê feliz.


Lúcia, obrigada pelo teu testemunho e pela força mobilizadora com que utilizas as tuas faculdades, com uma perspetiva de desenvolvimento “glocal”. Congratulamos-te, juntamente com o coletivo informal de voluntariado “Castro Daire de Coração nas Mãos”, pelo grande exemplo de cidadania e solidariedade que exercem para com o comércio e o artesanato castrense, prova de que a dimensão humana das pessoas e da sociedade há de sempre prevalecer sobre “os ventos e as tempestades”.

É uma confirmação de que a criatividade, a sensibilidade estética e o pensamento crítico exercem uma influência inequívoca na formação das pessoas e, consequentemente, na transformação da sociedade. São essas competências que procuramos trazer à luz na ação educativa que desenvolvemos no PNA, através das artes, da cultura e do património.

São também essas competências e valores humanos que nos conduzem à criação, que despertam e desenvolvem em nós o espírito empreendedor. Sem criatividade não há empreendedorismo. E o empreendedorismo é necessário mais do que nunca. Não precisamos de dar a volta ao mundo para empreender. Podemos começar pela nossa casa, sobretudo pela nossa casa comum, que é a nossa comunidade e o nosso património.

Reconhecer o valor e o interesse das nossas matérias e recursos e intervir no seu desenvolvimento e promoção pode ser um primeiro passo.

Cada um de nós é responsável pelo horizonte cultural e social do nosso km2, que é o meio que nos rodeia, no qual estamos inseridos e ao qual pertencemos. Esse é o património que herdámos e que deixaremos em herança. Sobre ele, devemos ter uma participação ativa, aplicando as nossas faculdades e talentos para o valorizar, preservar e desenvolver.

Entre vários exemplos, temos o artesanato- uma fonte de arte e tradição, que, aliada ao design e à inovação, se pode tornar uma força de empreendedorismo.

113 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page