Agricultura
Hoje, conversámos com o Fábio Pinto, que nos fala sobre AGRICULTURA. Falamos de aproveitamento de recursos no nosso território, concretamente, no setor da Agricultura e Pecuária. O Fábio Pinto é um jovem agricultor. Nasceu na Alemanha, mas vive em Casal de Mamouros, concelho de Castro Daire. Estudou em Vila Real, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, entre 2014 e 2019, onde fez uma licenciatura e um mestrado em Engenharia Agronómica. É também nesta universidade que trabalha atualmente, no Laboratório de Solos e Plantas, debruçado num projeto de “Agricultura Urbana” para a região do Porto. Para além disso, também tem uma pós-graduação em Técnico de Segurança e Higiene no Trabalho e dedica-se à agricultura, na sua terra natal. O Fábio também gosta de música e é um dos elementos da Banda "Amigos da Farra". Fábio, que motivações te levaram a abraçar a Agricultura como modo de vida? Desde sempre, estive ligado à agricultura, facto esse que me levou a procurar outros horizontes no mundo agrícola, daí ter escolhido ir para a UTAD tirar Engenharia Agronómica. Ao longo do curso, vinquei a minha ideia de que existem boas oportunidades na agricultura e de que esta não tem necessariamente de ser uma atividade para pessoas mais idosas, tal como estamos habituados a ver os nossos avós e os nossos pais. Se olharmos para o setor primário e fizermos uma avaliação detalhada, conseguimos perceber que a vida quotidiana depende do setor agrícola ou agropecuário. Quais as principais potencialidades da Agricultura e do setor? A agricultura na nossa região foi, desde sempre, vista como um meio de subsistência familiar, ou seja, a produção de frutos e hortícolas tinha como principal destino o autoconsumo. A tendência atual é de redução do número de explorações e, consequentemente, do aumento da sua dimensão média. Na Beira Litoral e Entre Douro e Minho, predominam as explorações de pequena dimensão, que geralmente correspondem a minifúndios. No Alentejo, predominam as explorações de grande dimensão que, outrora, constituíam vastos latifúndios. Em Portugal, o grande número de pequenas explorações condiciona o desenvolvimento da agricultura, uma vez que limita a mecanização e a modernização dos sistemas de produção, com a exceção do Alentejo, em que as dimensões das parcelas são muito maiores. Se nos virarmos para o nosso concelho, à semelhança de muitos outros concelhos, vemos que a agricultura tem vindo a ser cada vez menos comum, pois dificilmente vemos alguém que se vincule à agricultura como sua única atividade profissional, sendo que existe uma tendência crescente para a agricultura ser uma atividade paralela que complementa a economia familiar, em muitos casos. E ainda bem, pois voltamos a ver campos cultivados, continuamos a ver gado a pastar, (ovelhas, cabras, vacas), vemos também pomares de espécies distintas, quando, há 50 anos, se calhar, nunca ninguém imaginaria que isso fosse possível. Aqui, portanto, não vemos uma agricultura ativa por si só, mas também não a vemos como caída, em desuso ou esquecida, o que é realmente muito bom. Na tua opinião, qual é a importância deste setor para a sustentabilidade económica do nosso concelho? Em Portugal, a agricultura é uma atividade económica cuja contribuição para a criação de riqueza, expressa no Produto Interno Bruto e no Valor Acrescentado Bruto, tem vindo a decrescer. Deve-se, essencialmente, ao desenvolvimento das atividades dos setores secundário e terciário, cuja participação aumentou muito e tende a crescer, sobretudo a do setor terciário. O setor agrícola, no entanto, mantém ainda algum peso na criação de emprego e detém uma grande importância na ocupação do espaço e na preservação da paisagem, constituindo mesmo a base económica essencial de algumas áreas acentuadamente rurais do país. No nosso concelho, ainda existe muita gente associada à agricultura, uns com maior dimensão, outros de menor dimensão, mas todos, hoje em dia, não a vêm como pura e simples atividade para autoconsumo, mas também como um complemento económico. Quais são as estratégias para o desenvolvimento do setor primário (agricultura, criação de gado, etc.) no território de Castro Daire? Todos nós temos um ponto de vista diferente quando se discutem possibilidades ou estratégias, mas não duvido que todas elas tenham o sentido de melhorar o setor primário do concelho. Aquilo que eu sempre defendo é que para se produzir, primeiro temos de saber para onde vamos vender e, se neste balanço soubermos produzir muito bem e até com excelente qualidade, mas depois disso não conseguirmos vender, não vale a pena fazer trabalho nesse sentido. Mas se antes de produzirmos, soubermos que temos este ou aquele produto que nos dá a garantia de escoamento, tudo fica mais fácil à produção. E é este pensamento que eu sempre defendi, pois de nada servem palavras de fomentação e apoios à produção, quando o trabalho de casa não está feito ou quando não mostramos alternativas ao escoamento dessa mesma produção. É necessário valorizar os agricultores, é necessário mostrar também para os mais novos que, de facto, a agricultura existe e dela podemos tirar proveitos bastante positivos. Não serve só fazer floreados da agricultura como uma "atividade da moda", sem esta ter uma base de sustentação, onde os agricultores possam confiar e ver frutos. O exemplo dos mais novos está em casa. Se os pais são agricultores ou são criadores de gado, mas comentam à mesa que a agricultura não dá nada, os filhos vão ouvir esse exemplo e, claro, querem afastar-se o mais possível do mundo agrícola. Mas se os pais comentarem que afinal têm algum retorno de todo aquele árduo trabalho, ou por venda dos animais ou por rentabilização da matéria prima fornecida pelos animais, como a lã ou o leite, ou por venda de produtos hortícolas, acho que fica mais fácil a passagem de testemunho na agricultura, ainda que seja como atividade secundária, mas que não deixa que terrenos outrora de lavoura hoje sejam incultos e selvagens. Consideras que há potencial para o setor da Pecuária no nosso concelho? A criação de gado pode e deve ser tida em consideração no nosso concelho. É já bastante conhecida a Última Rota da Transumância, que é todos os anos representada pelos pastores do nosso concelho, serve também para que tenhamos noção da dimensão desse setor no concelho. As nossas serras podiam ser ainda mais aproveitadas com o recurso à pastorícia extensiva por parte de caprinos e ovinos. Continuo aqui a dizer que, por vezes, a atribuição de subsídios não é suficiente para estes criadores, acho que deveria ser montada uma estratégia paralela a esta que fomentasse o aumento de rebanhos na serra; por vezes, basta dar asas à imaginação e mostrar trabalho para que a obra aconteça. Do outro lado da criação animal, temos no nosso concelho um enorme efetivo de criação avícola, com pavilhões, muitos deles, bastante modernos, aliados às ultimas tecnologias. São muitos os avicultores em Castro Daire e, se calhar, muitos outros gostariam de o ser, mas pelos mais diversos motivos, não conseguem. Nesse sentido, acho que se devia, em muitos casos, rever as zonas de implementação dos pavilhões, a fim de, dentro do possível, facilitar a instalação de novos investimentos, atrair os grandes integradores para o nosso concelho. Acho que a fundação de uma associação de avicultores no concelho daria uma força extra para que alguns problemas deste setor fossem ultrapassados com maior facilidade, dando ancoragem aos criadores que têm grandes investimentos. Por último, como não podia deixar de ser, a criação de gado de raça arouquesa, uma raça autótone de elevado valor económico, mas também patrimonial, não deveria ser deixada para trás. Nesse sentido, adotar medidas à produção, sempre cientes de que a venda dos animais é um dos fatores mais importantes a ter em conta. Com isto, quero dizer que se devia fazer sentir na ANCRA uma força extra na ajuda à valorização do preço por kg de carne dos nossos criadores do concelho. Que sugestões e incentivos queres deixar aos jovens para enveredarem por esta vertente? Aquilo que eu tenho para dizer aos mais novos é que, atualmente, estamos a passar uma enorme crise que é consequência da pandemia do COVID 19; que estejam atentos ao mundo que os rodeia, pois TUDO parou, menos a AGRICULTURA. Dizer também que não é o simples facto de se ter a oportunidade de estudar ou de tirar um curso superior que faz de nós suprassumos ou talhados para o ramo para o qual estudamos, e muito menos para a vida. A agricultura não tem nem deve ser SINÓNIMO de vergonha por se trabalhar nas terras; deve ser, sim, orgulho de manter aquilo que os nossos avós, os nossos pais construíram e que, no FUTURO, irá criar também os nossos filhos. Os recursos que temos na nossa terra são uma oportunidade e devemos aproveitá-los! Fábio, muito obrigada pelo teu testemunho enquanto jovem agricultor e por teres mostrado a tua perspetiva quanto ao setor primário no nosso concelho e no país. Partilhaste a tua experiência, a tua forma de pensar e a tua consciência de Identidade, que ajudam a evidenciar o valor, o potencial e as oportunidades que existem no nosso território. Acreditamos que o teu exemplo e as tuas escolhas podem inspirar os nossos jovens a olhar para a terra, reconhecendo e valorizando os recursos que ela lhes oferece para poderem desenvolver um meio sustentável de vida e de futuro e assumirem um papel ativo como empreendedores e agentes de desenvolvimento económico no seu território, nomeadamente através da agricultura, pastorícia, avicultura e também a apicultura, sem esquecer o setor da extração animal, vegetal e mineral, tomando como exemplos algumas matérias da terra, como a madeira e o granito.
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